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Descarbonização progride, mas é necessária mais reabilitação energética

Descarbonização progride, mas é necessária mais reabilitação energética
Sessão "Imobiliário Verde: O financiamento na rota da descarbonização!".

A sessão "Imobiliário Verde: O financiamento na rota da descarbonização!", que decorreu no segundo dia da Semana da Reabilitação Urbana de Lisboa, abriu com as palavras de Augusto Ferreira Guedes, Bastonário da Ordem dos Engenheiros Técnicos, que ressaltou a importância do tema e da evolução ao longo dos últimos dois anos: «a reabilitação é um tema que está mais consolidado, há alguns anos era um tema novo».

«Vamos ver como os custos de energia vão evoluir, mas uma coisa é certa: temos que ver mais longe do que o dia em que estamos hoje, pois a energia está numa grande mutação, portanto temos de ser capazes de encarar isso como uma abertura de espírito», enfatizou, chamando a atenção para as mudanças que estão por vir no setor energético. «Queremos que o imobiliário verde seja uma realidade», completou Augusto Ferreira Guedes.

"É crucial alcançarmos a neutralidade carbónica para garantir um futuro mais sustentável e resiliente para o nosso país"

Na abertura da sessão, Nelson Lage, Presidente da Adene, recordou que «a descarbonização do edificado nacional já não é novidade para ninguém». Desenvolver uma sociedade com balanço neutro em carbono até 2050 coloca grandes desafios à construção e imobiliário. «A descarbonização dos edifícios segue uma trajetória favorável, mas é necessária mais reabilitação energética», salientou.

«Dispomos de uma oportunidade única para reabilitar o nosso parque habitacional, tornando-o mais eficiente e confortável. Portugal tem feito um esforço relevante para acelerar o ritmo de descarbonização do seu parque edificado, impondo exigências tanto para os edifícios novos quanto para os edifícios reabilitados, que têm vindo a aumentar», aponta o presidente da Agência para a Energia.

João Ribeiro e Sousa, Engenheiro Técnico de Mecânica, da Ordem dos Engenheiros Técnicos, afirmou que «temos o objetivo de contribuir para a construção de uma sociedade sustentável presente e futura, fazendo mais do que só cumprir a legislação e os códigos regulamentares, utilizando os recursos de forma eficiente e eficaz. Procuramos múltiplas visões para resolver os desafios da sustentabilidade». O responsável destacou ainda o impacto da reabilitação, não apenas em metas climáticas, mas também «na redução da poluição atmosférica e na importância da eficiência energética».

Guilherme Camello, Responsável de Sustentabilidade na Saint-Gobain Portugal, enfatizou que a qualidade da construção será sempre uma prioridade. «Portugal está comprometido com metas ambientais ambiciosas. A descarbonização é um desafio multifacetado, não se trata só de reduzir os gases, mas garantir menos custos energéticos ao longo de todo o tempo de vida útil», disse.

"O tempo de agir é agora. Na construção, na renovação, na utilização. Nenhuma derivada neste contexto deixa de envolver todos os stakeholders da sociedade. É um grande desafio de cooperação, nomeadamente na recolha de dados"

Do ponto de vista da banca, Adriana Oliveira, Diretora de Dinamização de Negócio Imobiliário do Millennium bcp, salienta que «os bancos serão facilitadores e promotores da transição energética». A responsável adianta «estes compromissos exigem a integração de critérios ESG nas opções e condições de financiamento, sendo que a taxonomia oferece uma resposta de ação. Trata-se de um sistema de classificação para atividades ambientalmente sustentáveis, que fornece às empresas, investidores e legisladores definições e critérios técnicos uniformes. O objetivo é orientar os fluxos de investimento para atividades mais sustentáveis, evitando assim a prática de greenwashing».

Mesa-redonda

A mesa-redonda da sessão "Imobiliário “Verde”: O financiamento na rota da descarbonização!", moderada por Luis Almeida, Membro do Conselho Diretivo Nacional, Ordem dos Engenheiros Técnicos, foi palco de um debate frutífero e de partilha de ideias sobre o tema em discussão.

Para Rui Fragoso, Diretor de Edifícios e Eficiência de Recursos da Adene, «vemos evolução considerável nos edifícios novos nos últimos anos, muitas vezes os promotores vão até além dos requisitos. A grande dificuldade está na reabilitação, nomeadamente pela sua complexidade e dimensão». Do ponto de vista da descarbonização, Portugal «está num caminho de neutralidade favorável: estamos razoavelmente bem na renovação, e menos bem na renovação energética profunda. Os próximos desafios serão os NZEB e a introdução do cálculo das emissões ao longo de todo o ciclo de vida».

O representante da Adene no debate argumenta que a banca «tem de aproveitar esta onda de renovação e incorporar os requisitos da taxonomia. Têm mesmo de se posicionar disponibilizando financiamento verde. A Associação Portuguesa de Bancos deve providenciar acessos a dados de certificação. O protocolo da ADENE com a associação permite conhecer o financiamento que está a acontecer. É uma boa oportunidade», sublinhou.

"Há vários desafios para construir com mais qualidade e mais eficiência"

«Os custos de construção têm de ser vistos sob várias perspetivas, há vários desafios para construir com mais qualidade e mais eficiência», mencionou João Ferreira Gomes, Presidente da ANFAJE. As janelas eficientes «são uma indústria altamente industrializada, e muitas vezes esbarramos com construção tradicional. É necessário aumentarmos a produtividade do setor da nova construção», adiantou.

João Ferreira Gomes espera que este novo Governo «possa redefinir estas medidas e políticas com mais ambição, não esquecendo a parte fiscal. Não podemos começar a casa pelo telhado, temos de ter IVA reduzido também pelas janelas, pela envolvente passiva, e só depois os aparelhos eletromecânicos. Falta ambição, esperamos que este novo Executivo atenda as nossas propostas e que incorpore novas propostas».

Por outro lado, Guilherme Camello, Responsável de Sustentabilidade da Saint-Gobain Portugal, disse que a empresa «já está a apostar nos novos materiais e mais sustentáveis. A Saint Gobain tem vindo a responder com matérias-primas recicláveis». Falando nas Declarações Ambientais de Produto, o responsável indica que «é um cálculo muito abrangente, até ao fim de vida. É difícil para as empresas essa elaboração de documentação, pois tem de estar em comercialização no mínimo um ano para que possa ser feito esse cálculo. Temos um planeamento muito ambicioso para que todos os nossos produtos tenham essa documentação até 2025».

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